Lula ou Bolsonaro? Especialistas admitem que é difícil prever quem ganhará segundo turno Ainda é muito cedo para afirmar quem galgará a rampa doPalácio do Planalto em 2023, devido à acirrada disputa entre Lula e Bolsonaro
Ua semana após o fim do primeiro turno, o embate entre os candidatos à Presidência da República se fortalece entre dois nomes que polarizam o Brasil e que agora estarão frente a frente, disputando o mesmo território: nas ruas, nos debates, nas redes sociais.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) passaram os últimos dias consolidando apoios e correndo atrás de novas adesões. Um quadro difícil, refletido nas pesquisas: na última sexta, o Instituto Datafolha divulgou nova rodada de intenções de votos, que mostrou Lula com 49% da preferência do eleitorado e Bolsonaro com 44%.
“O número de abstenções, que é exatamente o histórico das eleições presidenciais – com exceção de 2018, que foi maior, e o voto decidido, dificultam cravar uma resposta segura (sobre possíveis rumos deste segundo turno). Tivemos 20% de abstenções e entre 75% e 80% de eleitores decididos dois meses antes do pleito. Isso é inusitado”, considera o presidente do Instituto Cultiva em Minas Gerais, o sociólogo Rudá Ricci.
O Tribunal Superior Eleitoral registrou 20,95% de ausentes, o correspondente a 32.770.982 eleitores. Além disso, 1.964.779 de pessoas votaram em branco e mais 3.487.874 anularam o voto.
O resultado do primeiro turno apontou de imediato uma votação concentrada entre os dois candidatos, embora Lula tenha registrado seis milhões de votos a mais que Bolsonaro, e vencido em cinco Estados onde em 2018 o PT havia perdido: Amapá , Amazonas, Tocantins e Minas Gerais (segundo maior colégio eleitoral do Brasil) conquistados por Bolsonaro nas últimas eleições, e o Ceará, único em que Ciro Gomes ganhou há quatro anos.
Lula, que obteve 57.258.115 votos, venceu em 14 unidades da Federação, mas perdeu no maior colégio eleitoral: São Paulo. Bolsonaro, com 51.071.277, predominou em 12 Estados e no Distrito Federal. Tomou conta do Sul e do Centro-Oeste e, mesmo perdendo em Minas, teve maior quantidade de adeptos no Sudeste
Por isso, o apoio da ex-candidata Simone Tebet (MDB) a Lula é considerado tão importante por cientistas políticos. “É um dos apoios com maior impacto eleitoral. A senadora poderá dar votos em áreas onde Lula é fraco, como no Centro-Oeste e no Sul, porque teve boa votação”, estima o também professor Adriano Oliveira.
Aos olhos do cientista político Arthur Leandro, professor da UFPE, Simone Tebet sinaliza para um eleitorado com perfil liberal. “De um liberalismo mais contemporâneo, que respeita a condição feminina, a pluralidade e a diversidade da sociedade brasileira. É uma candidata que respeita as regras do jogo”, acentua, acrescentando sua importância na construção de pontes com parlamentares identificados ao que sobrou da social-democracia.
“Em um eventual terceiro governo, Lula vai enfrentar oposição forte, terá que negociar muito”, prevê.
Adesões de amplitude
Durante a semana, o petista arrebatou adesões de amplitude nacional, como a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, dos economistas Pérsio Arida, e Armínio Fraga e do Partido Democrático Trabalhista (PDT), endossado pelo ex-candidato Ciro Gomes. “São figuras que representam a defesa da democracia, uma pauta que está em voga e mexe com parcela do eleitorado”, coloca Adriano Oliveira.
Os votos dos mineiros (5.802.571), o Norte (4.554.630) do país e, sobretudo, a Região Nordeste (21.753.139 votos) asseguraram o êxito de Lula no primeiro turno. Minas é, historicamente, decisivo para as eleições presidenciais. O último presidente a ganhar o pleito sem vencer no Estado foi Getúlio Vargas, em 1950.
Para tentar reverter a desvantagem entre os mineiros, Bolsonaro se reuniu na quinta-feira (6) com empresários da indústria, em Belo Horizonte. Na terça (4), recebeu o apoio oficial do governador Romeu Zema (Novo), reeleito com 6.094.136 votos (56%).
“Esse foi o apoio mais importante que o presidente Bolsonaro conquistou esta semana. Mas como já foi reeleito, Zema terá que transformar o voto Zema e Lula em Zema e Bolsonaro. Se isso ocorrerá, não sabemos”, coloca Adriano Oliveira.
Apesar de estarmos a pouco mais de 20 dias para as eleições, ainda é cedo para previsões mais aprofundadas. “Teremos um segundo turno intenso”, diz Adriano Oliveira. O sociólogo Rudá Ricci não acredita em grandes mudanças.