Lula no G7: Brasil volta ao mais alto nível da diplomacia global, diz Itamaraty
A participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na reunião de cúpula do G7, em Hiroshima, no Japão, é o maior símbolo concreto de que “o Brasil voltou a atuar no mais alto nível da diplomacia mundial”, segundo avaliação do Itamaraty.
O G7 é o exclusivo grupo dos países mais ricos do mundo, composto por Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Japão.
Além de participar das reuniões ampliadas dos chefes de governo do grupo com outros países convidados, Lula também terá reuniões bilaterais importantes.
A CNN apurou que estão sendo negociadas reuniões, às margens da cúpula, com o presidente francês, Emmanuel Macron, e com o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.
Três outros encontros já estão confirmados: com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi; com o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, anfitrião da cúpula; e com o presidente da Indonésia, Joko Widodo.
Ao término da viagem, Lula terá tido reuniões de trabalho com um total de 25 chefes de estado e/ou de governo nos menos de cinco meses de mandato, segundo o Itamaraty.
Fontes do Ministério das Relações Exteriores ouvidas pela CNN dizem que o significado dessa “volta” do Brasil ao cenário internacional fica ainda mais claro quando se sabe que Lula foi o único presidente brasileiro convidado a participar de reuniões do G7 –e esta será sua sétima participação na cúpula.
E especialistas em relações internacionais ouvidos pela CNN dizem que o convite a Lula é um sinal do prestígio do presidente e do Brasil.
“É um sinal claro da importância que o mundo dá ao Brasil. O país não era convidado (para as cúpulas do G7) desde 2009. Lula vai aproveitar para insistir na paz na Ucrânia e na força do Brasil nas questões de meio ambiente e mudança de clima”, aposta Rubens Barbosa, que foi embaixador do país em Londres e em Washington.
Hussein Kalout, pesquisador na Universidade Harvard e ex-secretário especial de Assuntos Estratégicos da Presidência, disse que o convite “é uma expressão de prestígio e de respeito ao Brasil e, também, uma expressão de reconhecimento à liderança do presidente Lula”.
Guerra na Ucrânia
No Japão, Lula deve discutir com todos os líderes propostas para combater as mudanças climáticas, questões relacionadas à segurança alimentar e, claro, a guerra na Ucrânia.
As discussões sobre o conflito, no entanto, podem ser espinhosas, já que o G7 é o grupo que mais tem ajudado o governo de Kiev e criticado duramente a Rússia.
Apesar de o Brasil ter votado contra a invasão russa no Conselho de Segurança e na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Lula chegou a dizer que o Ocidente estava ajudando a prolongar a guerra –o que gerou críticas fortes tanto dos Estados Unidos como da União Europeia.
Depois, o próprio presidente teve que deixar claro, durante visita a Portugal e Espanha, que o país era contra a violação da integridade territorial da Ucrânia.
Essas idas e vindas no discurso são apontadas com um sério problema pela professora Fernanda Magnotta, senior fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e coordenadora do curso de Relações Internacionais da FAAP.
“Esse discurso desencontrado e a necessidade de a todo o momento ter que retificar o que foi dito traz a sensação de que o Brasil é um país com posições voláteis, com posições pouco claras. E em política internacional, instabilidade e falta de clareza não são bons indicadores para se construir uma credibilidade ou uma reputação de longo prazo”, diz Magnotta.
Kalout chegou a fazer uma recomendação para a diplomacia brasileira: tomar o devido cuidado em como abordar o tema da Ucrânia.
“Os países do G7 já possuem uma posição firmada e definitiva sobre a matéria e, portanto, não será um discurso ou um gesto de apelo que modificará o eixo de posicionamento desses países. O Brasil precisa ter uma estratégia inteligente, crível e eficiente de abordagem”, disse Kalout.
O embaixador Barbosa concorda que “os arroubos verbais do presidente criaram um atrito desnecessário com Washington e Bruxelas”, mas acredita que “essas declarações não devem ter consequências práticas contra o Brasil, enquanto for mantida a posição de autonomia estratégica” adotada pelo Itamaraty.