Lula inicia viagens pelo Brasil para entregar obras e intensificar relações
Após a crise instalada por ataques extremistas em Brasília e compromissos no exterior à frente do terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prepara uma agenda positiva de viagens pelo Brasil para inauguração de obras a partir de hoje, quando desembarca no Rio de Janeiro. Segundo especialistas, a estratégia do governo é medir a imagem de Lula perante o eleitorado, além de pavimentar a estrada para sua reeleição, em 2026.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, anunciou que a visita à capital fluminense objetiva a inauguração de uma unidade de saúde onde anunciará a retomada do planejamento e dos investimentos na área. O chefe do Executivo estará acompanhado da ministra da Saúde, Nísia Trindade. A pasta prevê um investimento de R$ 600 milhões para a execução do Programa Nacional de Redução das Filas de Cirurgias Eletivas, Exames Complementares e Consultas Especializadas, que será instituído por meio de uma portaria. O plano foi apresentado no último dia 27 aos governadores em reunião no Palácio do Planalto.
Em outra frente, o governo federal segue mapeando as obras, ações e programas que todos os 37 ministérios da Esplanada podem entregar nos primeiros 100 dias de governo. Rui Costa começou uma série de visitas a todas as pastas para receber dos ministros as prioridades de cada órgão. Costa explicou que a Casa Civil fará o monitoramento das ações em curso nos ministérios. Lula, segundo ele, quer “um ritmo acelerado de entregas e de ações de governo”.
Na chegada ao Rio, prevista para as 10h, o presidente participará da cerimônia de posse do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante. Às 15h, participará da cerimônia de inauguração de unidades do complexo Super Centro Carioca de Saúde, com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e do anúncio do lançamento da política de redução das filas de cirurgias eletivas, com a ministra Nísia, retornando no fim da tarde à capital federal.
No próximo dia 14, a expectativa é de que Lula viaje para Santo Amaro, na Bahia, para o relançamento do Minha Casa Minha Vida. No dia 15, vai a Sergipe para a retomada de obras de estradas. Após o Carnaval, o petista visitará outros estados anunciando investimentos como a volta do programa Água para Todos, que reúne medidas preventivas e corretivas contra a seca, sobretudo nas zonas rurais, devendo iniciar o itinerário pela Paraíba.
“Essas são as primeiras de uma série de viagens que Lula fará para retomar ações, entregar obras e lançar novos programas de governo. Temos pressa para reconstruir o Brasil”, reiterou o ministro por meio das redes sociais.
Antes das viagens ao Nordeste, o petista visitará os Estados Unidos nesta sexta-feira, onde se encontrará com o presidente norte-americano, Joe Biden, para uma série de agendas bilaterais.
Articulação
Para Paulo Baía, cientista político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as viagens de Lula têm a intenção de “dar musculatura” ao começo de seu mandato. “A reunião dos governadores feita no fim do mês passado mostra isso. Nessas viagens, ele terá a articulação de prefeitos também. Nessa pauta das viagens internas, há a questão do apoio ao governo, das iniciativas da gestão, de retomada das obras interrompidas, como também é uma linha de apoio político a favor da democracia que é o reflexo de reuniões com os entes. A pauta de viagens, tanto internas como nacionais e que vão se intensificar, diz respeito a essa ideia de fortalecer, dar musculatura ao governo nos 100 primeiros dias”, aponta.
Em publicação recente, o presidente reforçou querer “conhecer os reais problemas”. “Eu tenho quatro anos para provar que o Brasil pode voltar a ser um país que respeita o seu povo. Vou voltar a viajar o país para conhecer os reais problemas e levarei nossos ministros, porque um país como o Brasil não pode ver o povo passando fome”, destacou.
A advogada constitucionalista Vera Chemin, mestre em direito público administrativo pela Fundação Getulio Vargas (FGV), reforça a teoria de que Lula pretende “medir a temperatura” de sua imagem diante do brasileiro pelo país. “As eleições apresentaram um resultado de 50% para cada candidato — ex-presdidente Jair Bolsonaro e Lula — e é possível afirmar que o pano de fundo que está por detrás dessa viagem é a necessidade de reaproximação com a população das diversas regiões do país. E, ao mesmo tempo, captar o antigo apoio político por meio de um efeito-demonstração que pode ser traduzido em promessas voltadas à satisfação das necessidades sociais e econômicas peculiares a cada local a ser visitado.”
“Trata-se, portanto, de uma forma de aferir a sua credibilidade junto ao eleitorado brasileiro por meio de sua maior ou menor receptividade e, assim, recuperar a sua confiança calculando, estrategicamente, como deverá proceder no curto e médio prazo para manter a sua popularidade e preparar o terreno — desde já — para as eleições de 2026”, completa.
Mudança de planos
As visitas estavam previstas para ocorrer antes da ida de Lula à Argentina, ocorrida no dia 22, quando o petista se encontrou com Alberto Fernández e participou da Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). No entanto, a agenda precisou ser prorrogada, e a escolha da cidade visitada também sofreu alteração. No mês passado, Costa declinou de uma entrega previamente organizada para o dia 20 do Minha Casa, Minha Vida, na Bahia, que simbolizaria a retomada do programa. O ministro constatou atraso em várias obras. Na gestão de Bolsonaro, a iniciativa era chamada de Casa Verde Amarela.
Há ainda a previsão de que Lula visite o Pará, no Norte, para entregar obras de saneamento básico. Costa argumentou que haverá, além de entregas de obras, o anúncio de intervenções com recursos federais em estados, bem como a continuidade de construções paradas e abandonadas.
Até então, desde o começo do mês, Lula viajou para Araraquara (SP) a fim de analisar os danos causados pelas fortes chuvas na região e para Boa Vista, Roraima, onde definiu ações emergenciais aos povos ianomâmis, que enfrentam graves crises de saúde, como desnutrição severa.