Fumar maconha acelera o envelhecimento, mostra novo estudo
Fumar maconha pode provocar uma aceleração do processo de envelhecimento biológico, de acordo com um novo estudo publicado na revista Drug and Alcohol Dependence. Depois de analisar os epigenomas (conjunto de marcas químicas presentes no DNA) de 154 pessoas nos EUA, os pesquisadores descobriram que, quando atingem 30 anos, pessoas que fumam maconha com regularidade tendem a exibir padrões de ativação genética comuns em pessoas com mais idade.
Está bem estabelecido pela ciência que a velocidade com que envelhecemos não depende apenas do tempo. Fatores ambientais desempenham um papel fundamental na determinação de nossa taxa de maturação. Essas influências externas provocam mudanças na expressão de certos genes e, portanto, contribuem para nossa idade epigenética.
Nos últimos anos, pesquisadores desenvolveram ferramentas conhecidas como “relógios epigenéticos”, que analisam os padrões de metilação do DNA para determinar a idade biológica de uma pessoa. Os autores do estudo, portanto, decidiram fazer uso dessas medidas para investigar se fumar maconha traz uma discrepância entre o epigenoma de um indivíduo e sua idade real.
Os participantes tinham apenas 13 anos quando foram recrutados. Durante o estudo, eles tinham que relatar seu nível anual de uso de maconha até atingirem a idade de 30 anos. Neste ponto, os pesquisadores usaram dois relógios epigenéticos separados para analisar amostras de sangue de cada voluntário.
Os resultados mostraram uma clara correlação entre fumar cannabis e envelhecimento epigenético acelerado, com usuários mais frequentes exibindo a maior aceleração de seu relógio biológico. “Houve uma relação dose-efeito observada de tal forma que apenas dentro da população de usuários de maconha, níveis mais altos de uso na vida estavam ligados a uma maior aceleração epigenética da idade”, escrevem os autores.
É importante ressaltar que essas descobertas se mantiveram firmes mesmo depois que os pesquisadores ajustaram outros fatores, como tabagismo, problemas de saúde anteriores, antecedentes socioeconômicos, traços de personalidade e histórico de depressão e ansiedade ao longo da vida.
“Essas descobertas são todas consistentes, embora não possam estabelecer conclusivamente, um papel causal do uso de maconha no envelhecimento epigenético”, concluem os pesquisadores.
Análises de acompanhamento indicaram que o aumento geral no envelhecimento epigenético entre os usuários de maconha estava correlacionado com mudanças dentro de um gene repressor de receptor de hidrocarboneto específico chamado AHRR. Alterações semelhantes a esse gene já foram associadas ao tabagismo e à exposição à poluição do ar.
Com base nessa observação, os pesquisadores sugerem que os efeitos epigenéticos do envelhecimento da cannabis são provavelmente causados pelo ato real de fumar, e não pela ingestão de tetra-hidrocarbinol (THC) ou qualquer outro componente ativo da erva. Eles também observam que “as ligações com o envelhecimento epigenético dependiam de quão recente foi o uso de maconha, com o uso mais recente fortemente ligado à aceleração da idade e com esse efeito desaparecendo para uso em um passado mais distante”.