A Covid-19 deixou 40.830 crianças e a adolescentes órfãos de mãe no Brasil entre 2020 e 2021, mostra um novo estudo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), publicado na revista científica Archives of Public Health.
O trabalho mostrou ainda que as mais de 630 mil mortes provocadas pelo novo coronavírus até o fim do ano passado corresponderam a 19,1% do total de óbitos no país – cerca de 2 a cada 10 registros.
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Os responsáveis pelo estudo destacam que a maior proporção de vidas perdidas ocorreu na faixa etária de 40 a 59 anos. Além disso, que, em março de 2021, a Covid-19 chegou a provocar quase 4 mil mortes por dia no Brasil, um número maior que a média de óbitos por dia envolvendo todas as causas em 2019.
“A falta de coordenação nacional na implementação de medidas de distanciamento social contribuiu para a rápida disseminação de casos. Por sua vez, o manejo inadequado da epidemia de Covid-19 provocou uma crise sem precedentes na saúde brasileira”, escreveram os pesquisadores.
Os resultados são parte de uma análise sobre os dados de mortalidade da doença nos dois primeiros anos da pandemia com base nas informações disponíveis nos Sistema Brasileiro de Informações sobre Mortalidade (SIM) e Sistema Brasileiro de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).
Em relação à perda da mãe, os responsáveis pelo novo trabalho afirmam que os dados acompanham um outro estudo de cientistas do Imperial College de Londres, no Reino Unido, que analisou as taxas em diversos países. Segundo a pesquisa britânica, o Brasil é a sexta nação com o maior índice, com aproximadamente 170 mil órfãos considerando também a perda somente do pai ou de ambos.
Desigualdade no impacto
O estudo da Fiocruz e da UFMG encontrou ainda uma taxa de mortalidade pela Covid-19 três vezes maior entre brasileiros analfabetos quando comparada à daqueles que completaram o ensino superior. “Uma possível hipótese explicativa é que indivíduos com níveis acadêmicos mais baixos, geralmente trabalhando fora de casa e impossibilitados de parar de trabalhar durante a epidemia, ficaram mais expostos à infecção por Covid-19”, sugerem os pesquisadores.
Eles consideram ainda que o contexto da moradia em populações urbanas de baixo nível socioeconômico tornava mais difícil a adesão às medidas de distanciamento social e isolamento dos casos positivos, além do menor acesso aos serviços de saúde e maior incidência de comorbidades.
“As diferenças nas taxas de mortalidade por nível de escolaridade, com maior carga entre os indivíduos de menor escolaridade, refletem o impacto desigual da epidemia nas famílias brasileiras socialmente desfavorecidas”, afirmam.
Em relação às maiores proporções de morte entre pessoas de 40 a 59 anos, eles explicam que uma das explicações foi a demora para que esse grupo fosse vacinado. Eles lembram que o cenário sanitário mais dramático ocorreu no Brasil em março e abril de 2021, quando a população com menos de 60 anos ainda não havia recebido a proteção.
Além disso, “a maioria dos indivíduos em idade produtiva continuou a realizar trabalhos fora de casa, resultando em maior exposição ao vírus e aumento desproporcional de óbitos na população economicamente ativa”, escrevem os responsáveis pelo trabalho.