Deputados investigados pela PGR festejaram atos golpistas e têm histórico de ataques a tribunais e até à vacinação
Alvos da Procuradoria-Geral da República, os deputados federais eleitos André Fernandes (PL-CE), Silvia Waiãpi (PL-AP) e Clarissa Tércio (PP-PE) têm histórico de publicações alinhadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, incluindo ataques ao Tribunal Superior Eleitoral. Desde o fim das eleições do ano passado, mostram seus perfis, eles buscavam fomentar um clima de guerra, com conspiracionismo sobre o Supremo Tribunal Federal e as Forças Armadas. A PGR pediu a abertura de um inquérito para apurar a atuação do trio, por suspeita de incitar os atos golpistas na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
O pedido feito pela PGR afirma que as “postagens feitas pelos por eles em redes sociais antes e durante as invasões podem configurar incitação pública à prática de crime (conduta prevista no art. 286 do Código Penal) e tentativa de abolir, mediante violência ou grave ameaça, o estado democrático de direito”. Entre os exemplos, estão uma foto publicada por Fernandes da porta do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, vandalizada pelos golpistas, além de vídeos divulgados por Clarissa e Silvia, que fomentavam a invasão ao Congresso. Os posts em questão, no entanto, foram apagados dos perfis.
Convocação nas redes
Eleito deputado estadual em 2018 pelo PSL, na onda do bolsonarismo, do conservadorismo e da anti-política, André Fernandes tem atuação alinhada à pauta de costumes e armamentista, com projetos contra a ideologia de gênero e contra medidas de combate à pandemia, como o uso de máscaras. Dois dias antes da invasão e depredação dos prédios públicos em Brasília, ele fez publicações em suas redes convocando seus apoiadores ao “primeiro ato contra o governo Lula”, na Praça dos Três Poderes.
Já no início de novembro do ano passado, quando bolsonaristas bloqueavam rodovias e organizavam manifestações com pedidos de um golpe por meio das Forças Armadas, Fernandes disse não aceitar a eleição de Lula.
Também com alinhamento fiel a Bolsonaro em sua trajetória política, Clarissa Tércio ficou conhecida nacionalmente por ser uma das líderes do grupo que, em agosto de 2020, se aglomerou em frente a um hospital em Recife (PE) para impedir o aborto legal de uma menina de 10 anos, que havia engravidado após ter sido estuprada pelo próprio tio.
Durante a pandemia, assim como o ex-presidente, Clarissa teve atuação parlamentar e fez publicações antivacina, e chegou a defender tratamentos comprovadamente ineficazes contra o coronavírus, como a hidroxicloroquina. Após o resultado das urnas, ela vinha compartilhando publicações que fomentavam a expectativa de uma ação efetiva das Forças Armadas contra o governo do presidente eleito, Lula, e que disseminavam desinformação sobre o papel o STF.
Segundo a PGR, no dia 8 de janeiro deste ano, Clarissa divulgou no Instagram vídeo fomentando atos de invasão e vandalismo. Na postagem, ela disse: “Acabamos de tomar o poder. Estamos dentro do Congresso. Todo povo está aqui em cima. Isso vai ficar para a história, a história dos meus netos, dos meus bisnetos”.
‘Tomada de poder’
Já Silvia Waiãpi, também eleita deputada federal pelo PL, foi a primeira mulher indígena a ingressar no Exército e participou do governo Bolsonaro desde seus primeiros passos. O documento da PGR com a requisição de inquérito informa que ela divulgou vídeo das invasões no Instagram no dia 8 de janeiro com legendas que endossavam o conteúdo das mídias, fomentando os atos. “Povo toma a Esplanada dos Ministérios nesse domingo! Tomada de poder pelo povo brasileiro insatisfeito com o governo vermelho”, afirmavam as mensagens. A publicação em questão já não consta mais no perfil da parlamentar.
Em seu perfil no Instagram, Silvia soma posts com desinformação sobre o ministro do STF Alexandre de Moraes e que reforçam um clima de instabilidade com conspiracionismo. Em publicação em 12 de dezembro, quando o pastor indígena José Acácio Serere Xavante por envolvimento em protestos antidemocráticos, Silvia publicou que “indígenas patriotas” estavam sendo “subjugados e presos por lutarem pela sua liberdade”. Em outro post do mesmo dia, a deputada eleita diz que Moares atentou contra indígenas e que “o Brasil precisa entender que ele perdeu sua liberdade”.