Com mais de mil casos em 24 horas, Pernambuco registra o maior número de notificações em 50 dias
Após mais de dois meses em patamares mais baixos de contágio, em meio a uma tendência de alta em outras partes do Brasil e do mundo, Pernambuco volta a apresentar mais de mil casos confirmados de Covid-19 em um único dia.
No boletim divulgado nesta quinta-feira (9), a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) registrou 1.166 pacientes infectados em 24 horas, o maior número de notificações dos últimos 50 dias. Os dados reforçam o alerta de cuidados na atual fase de convivência com a doença, em que quase todas as medidas sanitárias restritivas, inclusive o uso de máscara, deixaram de ser obrigatórias.
De acordo com a SES-PE, do total de casos registrados, 1.160 são leves e apenas seis foram classificados como Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAGs). O baixo quantitativo de quadros de maior gravidade segue, ainda, a ocorrência de mortes, que também foram seis, ocorridos entre os dias 2 e 7 de junho. Com isso, Pernambuco chega ao acúmulo de 944.360 infecções e 21.761 mortes desde o início da pandemia.
Aumento e flexibilizações
Este foi o primeiro dia em que o Estado ultrapassou a marca de mil casos em um intervalo de 24 horas (veja na tabela abaixo). A última vez em que isso aconteceu foi em 26 de abril, quando a SES-PE confirmou o registro de 1.148 infecções, número um pouco menor que o de agora. Antes, no dia 20 daquele mês, a pasta divulgou a confirmação de 1.429 testes positivos para Covid-19. É o maior quantitativo de notificações diárias desde então.
Esse novo aumento nos números ocorre num momento em que praticamente todas as restrições adotadas para combater a doença são flexibilizadas. Em 29 de março, o Governo do Estado liberou o uso de máscara em locais abertos e a realização de eventos com 100% da capacidade. Menos de um mês depois, o item de proteção deixou de ser obrigatório nos lugares fechados, com exceção apenas dos serviços de saúde, das escolas e dos veículos de transporte público.
Volta da máscara?
Pesquisador do Instituto para Redução de Riscos e Desastres (IRRD) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Jones Albuquerque ressalta que o número de infectantes, ou seja, pessoas capazes de transmitir o vírus, voltou a subir nas semanas seguintes às flexibilizações.
“Nós estávamos com 5% a 6% e, cinco semanas depois, voltamos ao patamar de 60% de infectantes. Para frear esse movimento, deveríamos, sim, impor o uso das máscaras. Nós perdemos a consciência de que estamos em crise. E isso é muito perigoso”, avalia.
Ainda segundo o especialista, Pernambuco tem hoje uma taxa de contágio de 1.3, o que significa que três pessoas contaminam mais quatro. Além disso, são 90 infectados ativos para cada 100 mil habitantes.
“Nova York está com 280 infectantes para cada 100 mil, e eles estão com um risco considerado alto e máscara imposta em ambientes internos. Ou seja, nós temos uma folga ainda, então agora era o momento de se impor isso nos lugares fechados. E aí, sim, diminuiríamos essa infecção que está vindo aí”, conclui Albuquerque.
Procurada pela reportagem, a SES-PE informou que é comum o número de infecções aumentar quando há acúmulo de notificações pelos municípios nos dias anteriores. A pasta disse também que o Comitê de Enfrentamento à Covid-19 monitora os dados de cada semana e que uma possível volta da obrigatoriedade das máscaras não será definida por enquanto.
Quarta dose
Diante de um novo cenário de alta nas notificações de Covid-19, a vacinação continua a ser um fator fundamental na prevenção de casos graves e, consequentemente, do recrudescimento da pandemia. No início da semana, o Governo de Pernambuco, seguindo a orientação do Ministério da Saúde, autorizou a aplicação da segunda dose de reforço no público a partir de 50 anos e nos profissionais de saúde.
Segundo o boletim da SES-PE, o Estado aplicou, até o momento, mais de 19,8 milhões de vacinas contra a doença. Desse total, completaram o esquema vacinal com as primeiras duas doses 7.403.554 pessoas, o que representa 83,42% da população. Já a cobertura do primeiro reforço, também chamado de terceira dose, está em 49,06%.
Na avaliação do pesquisador Jones Albuquerque, para evitar uma nova onda, é preciso acelerar a ampliação do público apto a tomar as doses de reforço. “Tudo sugere que a gente deve baixar a faixa etária para todo mundo, porque senão vamos começar a ter pessoas a ficarem descobertas da imunização, que dura efetivamente três, quatro meses”, afirma.