Sequelas de ‘Covid prolongada’ dificultam rotina de pacientes curados e são objeto de pesquisa da UFPE
Grupo de fisioterapeutas da universidade dá assistência a quem se curou da doença, mas ainda há sintomas como fadiga e dificuldade para respirar. Pacientes relataram melhora após acompanhamento.
Por G1 PE
A pandemia da Covid-19 completa um ano nesta sexta-feira (12) em Pernambuco. Foi no dia 12 de março do ano passado que foram confirmados os dois primeiros casos no estado. De lá para cá, muito se descobriu a respeito da doença. Inclusive, que os sintomas podem não ir embora com a cura da infecção.
Alguns dos pacientes que se curaram da Covid-19 apresentam sequelas que persistem e dificultam a rotina. Chamada de “Covid longa” ou “Covid prolongada”, a sensação é estudada por cientistas do exterior e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Fadiga, dor de cabeça e falta de ar são sintomas que, mesmo após a cura, acompanham a corretora de imóveis Shirle Andrade desde abril de 2020, quando foi diagnosticada com a Covid-19. “O tempo foi passando e eu fui sentindo sempre a mesma fraqueza. Em maio, em junho, em julho. Em setembro, fiz exames”, disse.
Segundo ela, a sensação de cansaço impedia a realização de tarefas corriqueiras. “Antes da Covid, eu treinava, fazia dança de salão. Depois, eu não aguentava fazer uma feira no supermercado. Tinha muita arritmia e vertigens”, contou.
A persistência desses sintomas, segundo Shirle, também mexeu com sua saúde mental. “Você escuta as pessoas dizendo que é psicológico e você acaba achando que é coisa da sua cabeça. Quando eu senti que iam se passando os dias e eu não conseguia fazer as coisas que eu fazia antes, me batia uma tristeza muito grande”, afirmou.
Os sintomas prolongados da Covid-19 também foram sentidos no corpo e na mente pelo professor Naildo Cândido da Silva, de 55 anos.
“Passei 30 dias em casa e fiquei com 25% do meu pulmão comprometido. Depois da cura, eu não conseguia amarrar o cadarço de um sapato. Isso também mexe com o emocional, porque você fica preocupado”, relatou, devido à sensação constante de cansaço.
A alteração na taxa de glicose também foi percebida pelo professor após a cura da Covid-19. Através de exames de rotina, ele observou uma mudança na taxa depois de ser infectado pelo novo coronavírus, a qual estava dentro da normalidade antes da doença.
“Tem essa questão da taxa e das fibroses no pulmão, que é como chamam as cicatrizes. Eu fiquei mais preocupado com isso”, declarou.
Shirle e Naildo fazem parte do grupo de pessoas que passaram pela reabilitação de pacientes curados da Covid-19 no Hospital das Clínicas da UFPE. O trabalho teve início em setembro de 2020 e já recebeu cerca de 100 pacientes.
“A gente tem um público que vem da UTI, a maior parte, e a gente também tem uma demanda espontânea, de pacientes que não foram internados ou ficaram na enfermaria sem muita gravidade, mas que também ficaram com sintomas depois da doença”, explicou a professora Daniella Cunha Brandão, do departamento de Fisioterapia da UFPE.
Integrante do trabalho que reabilita pacientes que tiveram a Covid-19, Daniella explicou que, junto com mestrandos, doutorandos e as professoras Armèle Dornelas, Shirley Campos, Maria das Graças Rodrigues e Patrícia Marinho, também há uma pesquisa em andamento sobre a reabilitação de pacientes curados da Covid-19 e que apresentaram sintomas da chamada “Síndrome pós-Covid”.
Fazem parte do estudo a doutoranda Bruna T. S. Araújo e os mestrandos Ana Eugênia do Rego Barros, Natalia Amorim, Iris Amorim, Jakson Henrique Silva, Elaine Cristina de Moura, Viviane Mastroianni, além de profissionais de saúde do ambulatório pós-Covid do HC.
“No início, era só uma avaliação desses pacientes, porque a gente não sabia como a doença se comportava. Depois a gente começou a ver um movimento mundial, as mesmas queixas em outras partes do mundo, e trabalhos sendo publicados sobre sintomas depois da doença”, contou Daniella.
Segundo Shirle, o acompanhamento de fisioterapeutas ainda é fundamental. “Entrei na academia no início de março. Tenho um treino específico e tenho que monitorar batimentos cardíacos, fazendo tudo dentro desse limite. Ainda não consigo correr, mas já consigo dar uma caminhada sem me cansar, por exemplo”, disse.
Naildo Cândido também sentiu melhora no desempenho das atividades da rotina. “No último teste que fiz, respiratório, me disseram que eu estava recuperando a força pulmonar”, contou.
A equipe de fisioterapeutas da UFPE atende pacientes presencialmente, no Hospital das Clínicas, e por teleatendimento. Os pacientes podem procurar o serviço no telefone (81) 98292-6804.